Você já parou para pensar qual é o seu destino? Esse é um dos principais questionamentos que Caco Barcellos afirma fazer diariamente, logo de manhã cedo. O jornalista, que já cobriu mais de 30 guerras e hoje lidera uma equipe de jovens repórteres em um programa de reportagens investigativas, o Profissão Repórter, conversou com microempreendedores joinvilenses sobre os desafios enfrentados no dia a dia para levar um material de qualidade ao público. E foi além. Mostrou que, para cumprir essa missão, um jornalista precisa ser um verdadeiro empreendedor. A palestra foi realizada durante o Connect 2017, evento empresarial, cujo foco nesta edição foi criatividade e empreendedorismo.

Caco levou a plateia por um passeio em suas experiências profissionais para destacar um princípio que deve ser a base das atividades de todos os profissionais: ir aonde ninguém vai. Segundo o repórter, essa atitude é o que garante qualidade ao trabalho desenvolvido, ajudando a descobrir novas histórias, a mostrar novas perspectivas, a identificar uma demanda e a criar algo diferente e de valor. Ele explica que as respostas para uma boa reportagem (ou um bom negócio) estão exatamente no desconhecido, mas ressalta que colocar isso em prática não é uma das tarefas mais fáceis e, por isso, quem o faz se destaca.

São muitas as dificuldades encontradas ao longo do caminho e a superação delas proporciona os resultados que diferenciam os que buscam algo inovador daqueles que agem igual aos outros. Como exemplo, foram citadas as coberturas de guerras em que Caco foi com a equipe nos locais onde houveram confrontos, mesmo tendo a possibilidade de utilizar apenas o material de agências para produzir as reportagens, como a maioria dos jornalistas faziam. Inclusive, em um desses casos o carro em que estavam foi alvo de tiroteios e, por pouco, ninguém foi atingido. Diante disso, um dos questionamentos que ele escuta com frequência é se vale a pena arriscar a própria segurança nessas situações, mas o jornalista prontamente responde: “ossos do ofício”.

Do mesmo modo, Caco Barcellos faz questão de ir nas comunidades para entender a questão do tráfico e da violência a partir de uma nova perspectiva e apresentá-la sob um olhar de dentro para fora da comunidade. Ele explica que é preciso ver como é a vida daquelas pessoas e, assim, compreender os dois lados da história. E esta é a forma de dar voz a uma parte significativa da população e investigar o que realmente acontece no dia a dia daqueles que são normalmente esquecidos.

As lições de Caco Barcellos sobre inovação




Se para os jornalistas presentes ouvir as histórias de Caco Barcellos era uma verdadeira inspiração profissional, para alguns empreendedores a essência da palestra pode ter passado despercebida. Afinal, o próprio repórter afirmou na coletiva de imprensa que ele não deixava de lado seu papel de jornalista nos projetos paralelos. Seja nos seus livros, seja nas palestras que ministra, ele sempre leva um pouco da realidade que foi percebendo ao exercer essa função. Com isso, não era de se admirar que os ensinamentos sobre empreendedorismo e inovação estivessem nas entrelinhas de seu discurso.

Caco apresentou de forma sutil algumas ações essenciais para o desenvolvimento de projetos diferenciados, utilizando a própria história como pano de fundo. Afinal, além do trabalho de alta qualidade que o tornou um dos jornalistas mais premiados no Brasil, ele se tornou um grande exemplo de empreendedor com o Profissão Repórter ― quando conseguiu quebrar o funcionamento tradicional da Rede Globo e colocar focas (repórteres iniciantes) para executar um trabalho normalmente realizado por profissionais com anos de casa. O programa deu tão certo que já está no ar há 10 anos.

E quais foram, então, os ensinamentos de Caco durante o evento? Bom, listamos os três principais a seguir:

  1. O chefe precisa ver o melhor de cada colaborador: no início da carreira, quando tentava um estágio como repórter, Caco Barcellos era estudante de engenharia e trabalhava como taxista em Porto Alegre. Essa experiência poderia tê-lo tirado do estágio por não ter uma relação direta com a função, mas foi aproveitada pelo chefe, que a enxergou como um diferencial. Dessa forma, ele destaca a importância de aproveitar o que cada pessoa da equipe tem de melhor, pois isso é a base para o desenvolvimento de algo melhor e inovador. 
  2. É preciso fazer diferente dos outros: como já explicamos anteriormente, é importante ir aonde ninguém vai para conseguir algo de valor. Isso porque novas perspectivas são sinônimos de novas oportunidades, sendo importantes para valorizar o trabalho em um mercado tão competitivo como o atual. E essa ideia pode ser aplicada em qualquer aspecto: pessoal ou profissional. 
  3. Não são ferramentas que fazem a diferença, mas a forma como o trabalho é realizado: Seguindo a ideia anterior, o jornalista ressaltou que o diferencial de um projeto não está na ferramenta utilizada, na tecnologia ou no modelo de trabalho, pois tudo isso pode ser rapidamente copiado pela concorrência. O valor está na forma como a equipe se organiza e no que ela está disposta a fazer para conseguir um resultado de alta qualidade.


O Brasil e seus problemas de segurança pública


No fim da palestra, o repórter propôs uma pequena reflexão sobre as questões de segurança pública no país. Ao mostrar a bandeira brasileira, contou que sentia um misto de orgulho e vergonha em relação a ela e completou afirmando que o símbolo nacional deveria carregar uma faixa de luto para representar o alto número de mortes registradas no país. Ele revelou, inclusive, que o principal matador brasileiro é aquele que se denomina cidadão de bem. Aquelas pessoas que normalmente dizem: “bandido bom é bandido morto”.

Para a surpresa dos presentes, o repórter apresentou uma estatística, segundo a qual uma média de 70% dos casos de assassinato são causados por esse tipo de pessoa e, como exemplo, citou o caso Nardoni e o do jornalista Pimenta Neves, que matou a ex-namorada no ano 2000.


Fotos: Renato Ganske