À primeira vista pode até parecer um típico romance adolescente, mas o livro Cidades de Papel, do autor John Green, propõe importantes reflexões sobre a natureza humana e a vida em sociedade. Lançado em 2013 pela editora Intríseca, a obra conduz o leitor por uma história envolvente, com pitadas de drama, mistério e comédia ao longo de suas 368 páginas. A linguagem fácil é bem adequada ao público infanto-juvenil, mas a leitura não perde a riqueza e nem fica enfadonha para os adultos. Ao contrário, apenas a torna mais fluida, conduzindo os leitores (de todas as idades) pelos sentimentos que o personagem principal, Quentin Jackobson, sente pela amiga de infância.
Quentin nutre um amor platônico e muitas vezes obsessivo, por Margo Roth Spiegelman. Embora fosse sua vizinha e melhor amiga durante a infância, os dois se distanciaram com o tempo: ela integrando o grupo dos populares enquanto ele se juntava aos nerds excluídos. A menina era amada e invejada por todos na escola, tendo o respeito e a fama tão desejados por qualquer estudante do ensino médio. Era conhecida por ser forte, aventureira e destemida e fazia questão de ser sempre identificada pelo nome completo para ressaltar sua personalidade diferenciada dos outros adolescentes.
Essas características foram o suficiente para que povoasse a mente de Quentin. O que ele não esperava, entretanto, é que isso o levaria a uma jornada de aventuras, mistérios e redescobertas. É a partir daí que o romance ganha um pano de fundo mais complexo, trazendo reflexões sobre as relações e os comportamentos humanos. Dentre as questões levantadas ao longo da leitura, uma das principais é se a imagem que construímos das pessoas corresponde a quem elas realmente são, ganhando cada vez mais destaque justamente a partir do sumiço de Margo e a mobilização de Quentin e seus amigos (Ben Starling, Lacey Pemberton e Radar) para encontrá-la.
(...) dá para ver o que este lugar é de verdade. Dá para ver o quanto é falso. Não é nem consistente o suficiente para ser feito de plástico. É uma cidade de papel. Quer dizer, olhe só para ela, Q: (...) Todas aquelas pessoas de papel vivendo suas vidas em casas de papel, queimando o futuro para se manterem aquecidas. (...) Vivi aqui durante dezoito anos e nunca encontrei ninguém que se importasse realmente com qualquer coisa.
Os fios, a relva, o navio
O livro é dividido em três partes que correspondem não só às etapas do processo de busca pela garota, mas à evolução de como Quentin começa a enxergá-la. Conforme as pistas sobre o paradeiro dela são desvendadas, ele analisa Margo sob diferentes perspectivas, o que serve tanto para desconstruir a imagem inicial que tinha dela quanto para tomar lições para si próprio. O livro começa, então, com a parte intitulada “Os fios”, em que as pessoas são analisadas de forma mais individual, como se fossem constituídas por fios capazes de se romper a qualquer momento devido às angústias e aos sofrimentos que sentem.
Nesta parte, o personagem permite-se sair da rotina da qual tanto gosta para acompanhar Margo em um aventura noturna, que mais parece uma despedida. É como se a garota rompesse os fios que a conecta àquele lugar e às pessoas que faziam parte do seu dia a dia para buscar uma vida nova e com outros significados.
(...) talvez os fios se arrebentem, talvez o navio naufrague ou talvez nós sejamos relva, nossas raízes tão interdependentes que ninguém estará morto enquanto houver alguém vivo.
A segunda parte é representada pela relva e marcada pelo o fortalecimento da amizade entre Quentin, Ben Radar e Lacey durante a busca pelo paradeiro de Margo. O mistério em torno desse fato tem como base o poema Canção de Mim Mesmo do poeta Walt Whitman, que faz o personagem transitar entre a falta de esperança, chegando a acreditar na morte da garota, e a necessidade de desenvolver uma nova percepção para entender Margo: para encontrá-la era preciso sentir, pensar e tornar-se ela.
Até que na última parte uma nova abordagem do ser humano é apresentada. Ao invés de fios ou de uma forte conexão social, o navio surge como uma metáfora do ser humano. Assim, da mesma forma que esse meio de transporte adquire rachaduras no casco até que finalmente afunde, as experiências humanas, como decepções e sofrimentos, provocam fendas na alma das pessoas, também sendo capazes de afundá-las. Mas ao mesmo tempo é por meio delas que se compreende e se descobre quem as pessoas são de fato. É exatamente nesse momento em que Quentin enxerga a Margo real.
Mais sobre cidades de papel e seu autor
Cidades de Papel também foi adaptado para o cinema em 2015, sob a direção de Jake Schreier, também conhecido por Frank e o Robô (2012). Os personagens principais foram estrelados por Nat Wolff, como Quentin, e a atriz e modelo Cara Delevingne, como Margo. De modo geral, a adaptação perdeu bastante da proposta do autor ao focar apenas no romance dos adolescentes e deixar de lado toda a reflexão proposta na leitura. Mas se você estiver buscando um filme leve e sem muita complexidade, ele é uma boa dica.
John Green é bastante conhecido pelo livro A Culpa é das Estrelas (2013), também publicado no Brasil pela editora Intríseca. Mas este não foi seu único romance de sucesso. Ele também é autor de outras obras, como Teorema de Katherine (2013) e Quem é você, Alasca? (2014). O autor recebeu importantes prêmios literários, como Michael L. Printz Award, o Silver Inky Award e o Edgar Allan Poe Award, além de liderar a lista de mais vendidos do The New York Times.
Se você ainda não leu, vale a pena colocar o livro na sua lista e mergulhar nas aventuras de Quentin e seus amigos. E caso já tenha lido, compartilhe a sua opinião sobre a obra!
Já li esse livro no ano de 2014 e tenho ele na minha prateleira de livro, tanto ele quanto teorema Katherine(meu favorito) e, é uma viagem e tanta essa leitura. O Quentin eu me identifiquei muito com ele, não sou nada aventureira e tive muitas amigas como a Margo. Gostei muito de sua resenha sobre o livro, você enxergou a obra muito mais abrangente que eu rs
ResponderExcluirParabéns!!!
Oi, Vanessa! Desse autor, eu também tenho o Teorema de Katherine e A culpa é das estrelas, que ainda não li. Eu amei o Cidades de Papel e acho muito legal esse paralelo que o autor faz entre ser "recatado" e ser "aventureiro". A impressão que tive é que os dois perfis se completam, o que foi interpretada na relação entre Quentin e Margo. É uma leitura que vale muito a pena.
ExcluirÓtimo post! Na escola, na disciplina de Portugûes todos os trimestre cada aluno deve apresentar um livro à turma. Fazer o resumo e dar a nossa opinião acerca e vários alunos falaram desse mesmo livro e fiquei bastante curiosa pois é um autor bem renomado. Bj!
ResponderExcluirOlá, Rita! Esse autor é bem legal e vale a pena mesmo conferir esse livro. É uma leitura agradável e gostosa, sem ser simples demais. Beijos!
ExcluirAh, eu amo esse livro e ainda quem mais escreva. Amo todos os livros dele! Conheci ele pelo livro " A culpa é das estrelas". E esse livro Cidades de Papel é um dos melhores que já li, porque ele consegue envolver o leitor sabe. E um trecho super interessante é esse que você destacou falando que é meio dificil achar alguém que realmente se importe com qualquer coisa.
ResponderExcluirSucesso com o blog, amo posts assim, beijos
Este livro também está entre os meus preferidos, Nathália! É realmente muito envolvente tem uma leitura bem gostosa. Eu comecei a pensar na vida conforme ia lendo. :) Fico feliz que tenha gostado do post. Beijos!
ExcluirTenho que confessar que eu não sou fã do John Green. Não sou mesmo, nem as adaptações dos livros para o cinema me ganharam. Mas dessa vez fiquei até um pouco curiosa para saber mais e até quem saber ler este livro. Quando eu acabar de ler os livros que eu comprei na Bienal vou procurar um amigo que tenho para me emprestar. Quem sabe esse seja bom e eu goste. Beijos querida ❤
ResponderExcluirOi, Thayná! Bom, este foi o único livro que li dele até agora e gostei muito da leitura. Achei bem envolvente e faz a gente pensar certas coisas conforme os personagens vão crescendo nela. Se tiver uma oportunidade, dê uma chance sim! :) Beijinhos!
ExcluirAcredita que eu tenho esse livro já tem anos e nunca li rsrs ele está aqui na estante mas eu imagina uma história totalmente diferente, até por isso nunca peguei para ler rs
ResponderExcluirMas agora, lendo um resenha sobre ele, fquei até com vontade de pegá-lo. Olha como julgamos o livro pela capa rsrs achei ela tão sem graça que não quis ler e agora estou curiosa pela história rs
Oi, Érica! Ah, quem nunca julgou um livro pela capa que atire a primeira pedra! Espero que a resenha tenha dado um novo olhar para o livro porque realmente vale a pena ler. Beijinhos!
ExcluirEu não tive a oportunidade de ler esse livro, mas assisti ao filme. Óbvio que não é tão detalhado, mas achei muito interessante a forma como tudo ocorreu na vida do garoto que tinha uma vida pacata e que vivia com medo de explorar o mundo. A diversas formas de interpretar a mensagem que a história passa, mas sem duvidas a mais importante é sobre se arriscar e conhecer o desconhecido.
ResponderExcluirBeijos.
Eu também gostei muito do enfoque que deram para o filme. Como você disse, não tem como ser igual ao livro até porque são gêneros diferentes, mas a adaptação captou um lado interessante da história e essa de se arriscar mais é muito importante nós, né? Quantas vezes deixamos de fazer coisas por conta disso? Beijinhos!
ExcluirVerdade, mas às vezes não conhecemos direito até as pessoas com quem convivemos. A correria do dia a dia muitas vezes faz com que deixemos de observar coisas importantes sobre as pessoas, que dizem algo a mais sobre elas. Sobre os aplicativos: sim, temos a mania de falar pouco com alguém a achar que já estamos super íntimos. hahaha
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