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Foto: Jota Morais Fotografia |
Foi no início da Av. Presidente Vargas que o inesperado aconteceu. Era hora de voltar para casa e, depois de quase ser atropelada, presenciar uma manifestação contra alguma decisão do prefeito e dar uma volta ao redor Candelária, precisava descobrir onde era afinal a parada em que poderia pegar meu ônibus.
No caminho, várias pessoas vinham na direção oposta, mas uma figura em particular destacou-se na multidão. Senhor moreno, de certa idade, sentava-se ao lado da cadeira de engraxate enquanto observava os transeuntes. Meus pés levaram-me automaticamente na direção dele. "Moço, onde é a parada do 306?"
A resposta foi rápida e completamente diferente da que eu esperava. Era, na verdade, uma resposta-pergunta: "Moça, quer se casar com meu filho?". O riso foi instantâneo. O primeiro passeio pelas ruas cariocas já me proporcionou um pedido de casamento. "Ele é um ótimo menino, eu garanto!", completou com o orgulho paterno. Difícil não acreditar naqueles olhos brilhantes e cheios de amor ao se referir ao filho.
No diálogo que se estabeleceu, soube que meu "pretendente" recebera uma educação exemplar. O engraxate na minha frente enfatizava que fizera o possível pela boa educação do menino e ensinou os valores adequados para que se tornasse um homem de bem. Hoje, entretanto, o rapaz encontrava-se deprimido devido ao fim do noivado com uma mulher do sul. "Ela parecia muito com você.", afirmava o pai com a preocupação estampada no rosto.
A esta altura, a informação sobre meu ônibus era irrelevante. Os detalhes dessa história saíam com tanta espontaneidade que um simples pedido por informação tornou-se uma possibilidade para desabafo. "Não queria se casar mesmo. Já tinha 29 anos e não precisava voltar com os pais para o sul. Eu poderia ajudar!" Doía chegar a essa conclusão.
Uma senhora passou ao nosso lado e, de repente, o engraxate mudou sua atenção. Agora, ele quem precisava de uma informação importante e a mulher tinha apenas aquele tempinho para o atender... Fui trocada inconscientemente. Talvez eu tenha ajudado um pouco aquele senhor a amenizar o aperto no coração. Mal sabe ele, entretanto, que ajudou a me sentir um pouco mais integrada nessa sociedade em que sou meio turista, meio moradora.
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